sábado, 30 de maio de 2009

Eu acredito em você beija-flor!

Ele voa. Sei disso porque ele está no céu, em algum lugar à alguma distância daqui, na companhia de alguma flor que provavelmente nunca verei, enquanto eu me deito sobre esta ávore antiga, amiga e morta coberta por aconchegantes algodões tingidos e pluma ensacada. De certa forma, a certeza de que me deito sobre tudo moldado pelo homem, inclusive minha vida - da qual faço parte apenas por estar deitada nela - se tornou constante nos últimos segundos.
Me deito sobre o casamento, sobre a tolice, sobre o telefone quebrado, sobre a toalha lavada, sobre Camille Cloudel, sobre o boneco sem nome, não me deito sobre a sociedade pois já estou deitada sobre a tolice, e não me deito numa mesma coisa duas vezes. Me deito até sobre os grandes impérios e os gênios.
Só sobre o beija-flor que não me deito.
Ele voa.Sei disso porque ele está no céu, em algum lugar à alguma distância daqui, na companhia de alguma flor que provavelmente nunca verei, enquanto eu não me deito sobre ele, nem sobre a flor. São essas as regras, não se deita sobre aquilo que não se conhece. Você se deitaria sobre um Shmellowpango?
Viu? Não se deitaria. Por quê? Porque não os conhece. Não fique triste. Eu sei tanto de flores e beija-flores quanto você sabe de Shmellowpangos. E isso é perfeito. É exatamente para isso que vivemos. Olha, se soubéssemos tudo que a humanidade quer saber, as coisas perderiam a magia do incerto, descobriríamos as fadas e Mussoline se deitaria sobre as sereias.
A sabedoria não está no conhecimento absoluto, e sim nos momentos em que fechamos os olhos para deixar que tudo se esconda e poder saborear uma surpresa. Não quero saber tudo sobre flores e beija-flores. Não quero me deitar e ficar acima de ambos.
Quero apenas saber que quando o botão de uma rosa murcha, é melhor cortá-lo, assim a roseira me trará mais botões e mistérios (como agradecimento?).
Basta acreditar que o beija-flor viverá mais um dia, que ele virá me ver, quem sabe às 3:00 da manhã, e que quando isso acontecer, poderei ver suas asas formando dois números oito no ar.Basta pensar que um segundo encerra muitas vidas, e que nesse segundo eu direi, ou pensarei: "Eu acredito em você beija-flor", e ele voará com seus mistérios.

by Luiza Chiesa (foxy lady)