terça-feira, 29 de junho de 2010

Conversa de ver em mim


Deixei plantar minha plantinha, e coloquei-a em uma caixinha, esperando que ela me vivesse. Quero que floreça meu girassol, essas sementes tão quietinhas, escondidas em vão. Quero que sejam desmentidas e lamparinem a escuridão. Gostaria de florí-las com voz ativa, cantá-las em todo canteiro, conquistá-las como as companheiras que já são. Ah! Se me deixassem querer, pediria várias pétalas amarelas que inspirassem gás carbônico e só fizessem expirar alegria, esperança, empatia, confiança, e todo o mais que servisse de guia, de guia para o raiar do dia.
Ai, ai minha florzinha, cuide de crescer rentinha ao meu coração, trate de tranformar água em vida rida, lida, sentida, vivida, desmedida. Oh! Meu amor, olhe só que lindo luar. Espere, espere um pouquinho que seu corpo rasteiro também há de brilhar, aqui, no chão, dado que flores ainda não aprenderam a pairar no ar.
Você, flor-de-mel, é graciosa até sem estar. Miro este vaso com solo e imagino, imagino como você está. Não me deixe aqui esperando, não atrase o nosso encontro, não seja vaidosa a ponto de demorar-se para ver se espero, pois espero, e esperarei, com toda certeza para deleitar-me com cada milímetro seu a mais. E eu te ensinarei os poetas, viu? E o mundo te conhecerá. E você será risonha, não será? Sei que será. E não há de morrer, ou há? De que morre um girassol? Quanto vive um girasso?
Terei de me informar. Saber mais para poder criar-te, e te deixar ir, quando for a hora. Mas, caso eu vá primeiro, se o tempo levar-me ligeiro, aí peço, cuide do que fui, não me apague de seu eu mais profundo. Não me exclua, nem me esqueça, para não romper-me em solidão.
E, escute bem, meu amor, se você está agora lendo isso, então ainda existe uma solução, então ainda existe transformação, então ainda existe a vida e eu permaneço. Então eu sobrevivi para ver finais felizes, e você já é capaz de trilhar caminhos, porque você já sabe voltar a ser o que era, o que foi, o que sou. Sim, eu sou, sou você, meu girassol. Esperei tanto, a ver minhas mãos vazias, com terra, vaso, caixinha, e tua face não. E agora minhas raízes? E agora sua base? E agora que somos fundidas, somos o quê? Somos só?
Acalme-se flor-de-giro, deixe estar, que isso não é ser sozinha, solidão não é estar sem alguém, é muito mais estar na ausência de si mesmo. Despreocupe-se. Ainda soa no ar o tom da vida, e seus olhos são predestinados a ter alguma coisa de real, alguma coisa de preenchidos e ainda mantemos em nós o gostinho da eterni-sempre felici-dade.
Pequena serena, dê-me sua mão e seja a vida menina de suas folhas, de minhas palavras, seja sorrisos escorridos por meus dedos, seja o mundo que gira, gira, gira e o sol amarelo, numa folha qualquer, surgindo para somar e rodar.

by Luiza Borba (foxy lady)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ponto, virgula e exclamação

E com uma (re)volta desmedida
Me reviro e volto onde achei que tinha acertado.
Sem palavras que expressem tal sentimento
Ao mesmo confuso e ao mesmo tempo tão certo.

Pensei que houvesse aprendido,
Achei que tivesse optado.
Mas, a minha opção me enganou.
E desacometida vou agora.
E enganada ao rumo do nada?

Não sei, talvez tudo passe ou tudo piore.
Mas o que provavelmente aconteça é minha consciência pare,
volte,
reflita,
perdoe,
se desengane,
e deixe entre ponto , virgula e exclamação
um silêncio como protesto.


Renata Otaviano

quarta-feira, 2 de junho de 2010

À garota "dois cookies"

Hoje é dia trinta de maio, um domingo, e ontem, em algum instante entre pegar o ônibus e o início da aula de canto, eu parei para comprar cookies, e por alguma razão, eu estava feliz. E só estar feliz não me bastava, eu queria inserir felicidade em transeuntes. Talvez eu tenha conseguido. Foi com a mulher do caixa. Não que eu tenha feito algo especial, eu só fui a Luiza que eu queria ser no momento e fiquei indecisa entre um cookie e um brownie. Este bem pretinho e crocante, e aquele macio, de baunilha, com gotinhas escuras. Pedi-lhe conselho e a vi responder, indubitavelmente:
-Um cookie. -  Decidi:
-Um cookie.
Ela riu. E voltou com algo inusitado. Eu indaguei:
-Dois cookies?
Ela levou o dedo indicador aos lábios e sibilou. Eu sorri e saí andando. E ainda estou pensando. Ela sabia que tinha cometido um pequeno erro de matemática, que tinha feito 1+1=2, ao invés de, sei lá, 1=1 e ponto. Ela sabia, eu sei e agora nós duas temos um segredo, que divido contigo apenas por confiar muito em você.
E vou refletir.
Sabe o que as pessoas costumam fazer? Elas costumam pensar que são apenas um ser, que se resumem a um nome e a uma existência. Que não são nada senão elas mesmas. Mas não é bem assim.
Quando temos um caminho a seguir, um destino certo, costumamos nos firmar nele, traçamos uma linha reta e não olhamos para os lados, para não dispersar o futuro. É como se a vida fosse um corredor extenso medido, não em metros, mas em segundos. Só paramos para olhar para os lados na hora de atravessar a rua, e, se partirmos do princípio de que o fazemos para manter a vida que já levávamos, desviar o olhar aqui nada mais é do que continuar olhando para frente. É com essa desatensão que trombamos nas pessoas.
Acontece que pessoas não são feitas pra trombarmos nelas. Viver não é caminhar ou correr por uma estrada. Viver é estender trilhas para facilitar os caminhos e poder, assim, olhar em volta para dar sentido a borboletas e zangões. E também não somos seres singulares, igualitários. É tão mais bonito ser sem solidão. Sejamos todos uma soma, e caminhemos unidos para a vida, que, só, nos espera, sentada em uma árvore, e a qual podemos perder ao não reconhecer a totalidade de nossas existências, ou ao desmentir miragens.
A garota "dois cookies" foi essencial, não por ter melhorado a situação da glicose em meu corpo, e sim por ter-se deixado tocar por minha felicidade, por ter me mostrado o leque de boas possibilidades com que a sociedade se abana. As coisas pequenas rumam os dias unicamente, e, transformando tudo isso em dados, um "não" demora desesseis "sins" para recuperar um alguém. Logo, a diferença de quem tu és não parte do que o mundo fez de ti, e sim do que estás fazendo de tuas orbitações em torno da Terra.
Então é tudo mais ou menos assim: mude o mundo se ele o incomoda. Sorria. Ganhe cookies (no plural). Passe em frente a um mendigo numa manhã fria, cumprimente-o, deseje-lhe bom dia e deixe com ele aquela barrinha de chocolate escondida em sua bolsa. Gosto de pensar que é assim que tudo devia funcionar.
Sabe, minha professora de inglês perguntou-me o que eu estava fazendo pelo mundo. O questionamento tinha inclinação ecológica, e meus pensamentos tenderam para outro rumo no decorrer da semana. No fundo talvez eu não atente tanto para o lixo-reciclável quanto para o ser sensível interno a todos nós. Você, leitor-que-já-deve-estar-farto-de-tanta-baboseira, insira isso em seus próximos segundos da maneira que quiser, mas, por favor, pare um pouco.
Pare, e acredite que em algum canto sujo existe uma criança chorando. Em algum dia frio existe um sem-teto orando. Em algum desespero existe uma mãe tentando sorrir. Em alguma poluição existe a vegetação atrofiando. Em alguma mesa branca eu já existi escrevendo isso. Em algum segundo vil está você. E você, como está?

by Luiza Borba (foxy lady)

ps: este é um fragmento de algo que estou escrevendo, não é um diário, mas são meus dias em narração. Bom... um dia eu descubro tudo isso melhor. Até mais.