domingo, 25 de abril de 2010

Ontem (uma girafa numa perna-de-pau)


"E o que vejo a cada momento
É aquilo que antes nunca tinha visto
E eu sei dar por isso muito bem
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo"
Alberto Caeiro

As pessoas costumam subir na vida devagarzinho, degrau por degrau. Eu, desprendida que sou, ergui-me numa perna de pau. Vesti-me de girafa para tomar lições de moral. E pr´aqueles que tentaram me derrubar, mostrei que também carrego minha cara-de-pau.
Não me leve a mal, toda girafa caminha devagar, e talvez eu demore um tempo para chegar a algum lugar. Aí é que está a poesia da coisa toda: ontem, eu ali, simbolizando um animal, mais alta, mas não superior, a todos, tinha apenas que seguir em frente, traçar uma linha com a visão e ir reta nela, às vezes parando para olhar as vidas tumultuadas ao meu redor, às vezes me agachando, e virando, para ninguém esquecer que dor é algo que todos sabem de cor (e salteado).
Sim, a caminhada é árdua e o pé pode doer, a perna pode ficar bamba, o tombo tem toda a chance de ser feio, mas o show deve continuar, e assim você aprende a ser você, e se superar em qualquer lugar, aprende a não olhar para chão e se levantar sem ter medo, aprende a se sacudir e entender na farra todo o segredo. E pretendo manter essa minha capacidade de gostar de enfrentar desafios, eu digo, se eu tiver que subir numa perna-de-pau e aprender novas formas de andar, eu vou, e vou sorrindo, com aquela gargalhada típica dos recém-nascidos.
Ainda não sou bem tudo o que posso ser, nem estava perfeita em cima de toda aquela madeira, eu só sabia exatamente o que tinha de fazer, eu só sei perfeitamente em que meios encontrar meu fim, como ir às alturas me encontrar em mim.
HAHA. E depois que se acostuma a ter uma perna de árvore anexada à sua, fica fácil subir num salto alto, você o enxerga mais como um salto tão baixo quanto tanta gente por aí. Isso não quer dizer, entretanto, que eles não podem mais te afetar, quer dizer apenas que se você quiser, pode tentar não se incomodar.
Sei bem que durante a travessia é possível adquirir um coração partido, um braço dolorido, um músculo, na coxa, desfalecido, however, qual é a graça de só rir na vida? É até gostoso passar por um risco tão grande e aumentar em questão de segundos o tamanho de um corpo tão, mas tão delicado, que à vista até parece suportar um ser muito frágil, mas isso é impressão que só fica na aparência mesmo, e ser aplaudida no final dá aquela sensação que não tem tamanho e supera qualquer mal-viver.
Pois é aos poucos que a gente vai reparando nessas sutilezas mesmo. Um ursinho de pelúcia com certidão de nascimento nos braços de uma adolescente é, assim como brincar de ser bicho grande e desengonçado na frente de todos, não uma criancice, e sim um ato de coragem. Aquele tipo de ser corajoso que consegue ser a si mesmo e despir-se sem escrúpulos na frente de todos, dando sua cara a tapa, até por ser essa cara-de-pau que já afirmei nas primeiras linhas, e saber que vai doer mais é na mão de quem bate.
Luiza Borba Chiesa agora é girafa também. Foi como uma palhaça linda em uma perna-de-pau. Seguiu calma e imponente ontem, e é lida por você hoje, ser presente.
Tento agora repassar vários fatos vividos como aprendizagem. Tento me expressar, me pintar para que este texto seja visto como paisagem. Olhe só que lindo: cheguei a pensar que ser criança mesmo é brincar com sonhos. Eu quero gravar na esperança esta imagem, aquele dia, ontem.


Muito obrigada a você ( por ter-me lida, inteirinha, até aqui)
Muita sorte à mim (por pretender ser-me, inteirinha, daqui até o fim)

Luiza Borba (foxy lady)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

À frente, Avante, e a Mente Errante



Sim, Deus comigo não fala
Porque mamãe diz para aos estranhos dizer pouco, ou então dizer nada
Dar-lhes a cala
E eu sigo esta estrada
sozinha: eu e minha mala
E levo a mim mesma na barriga
Vou na marra não importando o tamanho da vala
E digo a mim mesma pra ser destemida
Rimar com a vida, engrandecer a bagagem rala
E rio de mim mesma com risada bem rida
Alegria teimosa de vista que inocência exala
E esqueço de mim mesma para aproveitar a ida
Mas carrego alguns espinhos para gentilmente abrir esta ala
Que as vezes se interdita por me achar meio bandida
Só até que eu prove que só gosto quando doce está a bala
E permaneço em meu rumo com flores e dores com cores de sina perdida
Ah! Por pior que pareça lembro-me agora de ter esquecido na sala
Naquela hora do adeus derradeiro da partida
O meu vestido, no cabide, de gala
Companheiro ausente, e a viagem deve ser seguida
Em frente, e esta falta (a mim) eu mesma por fim vou dá-la
Pois ainda sopra o vento ao que escrevo nesta linha lida
E o sabor doce do ar úmido de comoção me vê e me inala
Olho pr´atrás e avisto um horizonte de vida vivida
Se já precisei de ajuda, para caminhar retiro a tala
Vou firme, certa, decidida
Voo linda, reta, desprendida
Mesmo nestas condições:
Sim, Deus comigo já não me abala


by Luiza Borba (foxy lady)

sábado, 17 de abril de 2010

Previsões estequiométricas

Querido diário,

Ultimamente tenho pensado muito sobre o que a vida tem significado para as pessoas.
Mais que uma filosofia, mais que uma tese sobre evolução X criação, deveriamos tomá-la como uma chance unica de poder fazer o que é certo na hora precisa e no lugar exato.
As vezes prevemos tantas coisas, tantas atitudes esperamos das pessoas, mas infelizmente o que era proceder do mesmo modo com todos, acaba nos fazendo concluir que só na teoria é que existe o que chamamos de valores.
Fernando Pessoa disse que o poeta é um fingidor. Quem me dera! Quem me dera se fosse só o poeta quem finjisse. Nesse jogo de culpar o mais fraco e de se livrar daquela pessoa irritante é que, Querido diário, finjimos o tempo inteiro. Nos vestimos de máscaras de felicidade, de integridade, de cumplicidade e de amizades que não nos servem pra nada. Não nos servem nem para o nosso auto-crescimento, muito pelo contrário, nos afundamos em mentiras a um ponto de acreditar em todas e de convencer-nos que são verídicas.
É. Tudo comprovado na teoria.
Seria muito facil se tudo funcionasse direitinho. Fomos criamos com a função "contrariar" ativada. Nossa democracia, nossos ideais, nossa luta por termos um mundo mais justo, até nossa história, é tudo estequiométrico.
O estranho em tudo, sabe o que é? É saber que em nada temos aprendido. Aquela velha história de que o homem aprende com os erros do passado está guardada num museu lá no fim daquela rua escura, junto com todas as verdades que estão por trás daquilo que vivenciamos.
E o tempo? Ah, "o tempo não pára".
No meio daqueles várias frases bonitas que a gente aprende de 1ª a 4ª série, eu ouvi certa vez que uma andorinha só não faz verão. Que pena! O que seria do verão então, se a primeira andorinha não começasse a voar e um sempre dependesse do outro, não é?
Que me chamem de louca, que digam que piso em nuvens, que falem: lá vem a sonhadora. Que seja esta minha maior e eterna quimera. Não ligo, por que "tenho em mim todos os sonhos do mundo" e acordo todos os dias pronta pra lutar por aquilo que acredito.

Renata Otaviano

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vou pra mim

vou de bus ou de car
bus/car meu amor
procurador de seres pr´amar
com ardor
sem a dor
acolhedor-
adoradamente

com amor

não é mesmo
relevante
os meios da condução
o que importa
dos sentidos
é que não sejam em vão

o que quero
da metáfora
é que seja a meta-
linguística
feita com esmero
talvez até com lero-lero
pra sustentar até o fim
este possível bolero

pra acariciar em mim
a vida que quero
e gero
e desespero-
adoradoramente

que ( h)aja
este agente

by Luiza Borba (foxy lady)
ps: esta pseudo-poesia existe devido a grande participação de um querido amigo guitarhero- que viu as palavras "bus" e "car" em "buscar", e que tinha a poesia salva para me salvar quando a mesma desapareceu de meus rascunhos aqui no blog, o que tornou possível sua publicação... como num renascimento... esta é, então, a segunda existência de "Vou pra mim"
valeu Serginho =D

sábado, 10 de abril de 2010

Você é capaz de ver que nao é só a guerra que tem batalhas?

Historia, de fato, é uma das minhas maiores inspirações pra escrever. O entusiasmo criador vem ao analisar, ao escutar, ao entender tudo o que se passou em uma trajetória até chegar no que eu sou agora, no que o mundo é atualmente. Deveria servir de aprendizado atos de nossos antecedentes, erros não deveriam ser cometidos novamente, para isso a historia é contada, para isso existe biografias, historiadores.
Agora, nós jovens, crescemos em meio de comodismo, sem símbolos, sem valores, sem idéias, sem vontades, sem lutas, sem conquistas. O que conquistamos durante a ultima década? Três Diplomas? Jovens estão devendo sua participação no processo de desenvolvimento do Brasil. Nossa coragem, impetuosidade, pureza e senso de direito e de justiça estão fazendo falta no cotidiano. Envolver-se em questões políticas, sociais, econômicas, ambientais. Isso, lamentavelmente, não tem ocorrido.
Crescemos em um país onde os grandes símbolos são ex prostitutas, ex drogados, ex bandidos. Nossos valores são “Lei de Gerson” e “Jeitinho Brasileiro”, nascemos com o ideal precípuo de ficar rico, custe o que custar, doa a quem doer, tudo com o intuito de ir embora do país, prejulgando Brasil como o pior lugar para se morar. Defeitos? Apenas em nossa 5ª maior área geográfica que existe. Não, não faço o gênero de pessoa patriota, sou bem menos que isso, mas me emociono ao ver a emoção que antecedentes tinham ao marchar em plena época de governo militar, cantando o hino nacional em desfiles cívicos. A bandeira do Brasil era ostentada com orgulho apesar de todas as limitações de liberdade individual e coletiva. E agora? Não há opressão nesse aspecto, onde está o orgulho? Cade o prazer de ser brasileiro? Pode ser uma rebeldia o meu pensamento, mas creio que nesse aspecto o governo militar tinha sua importância, incrível, a primeira coisa que foi abandonada com a redemocratização do país foi o civismo, o sentimento de orgulho ao abraçar a bandeira.
Somos uma geração de maus exemplos, geração da bundalização, geração que só leva em consideração o Brasil, só lembra que é brasileiro, de quatro em quatro anos, quando surge a Copa do Mundo, depois, volta-se a esquecer rapidamente, principalmente quando o Hexa não é conquistado, como aconteceu a quatro anos atrás.
Não é ruim ser conhecido com o país do futebol , nem como o país das mulheres mais belas, mas precisamos ser um país de outras coisas, precisamos ter pretensões, precisamos lutar por ambições, por um futuro tão bom quanto o que nossos pais nos permitiram ter. Lutar para, no mínimo, manter direitos que eles conquistaram e pouco aproveitaram, afinal, esses direitos espelhariam em nossa geração.
Uma placa, precisa-se de mudanças, deveria ser pendurada à porta do Brasil. É necessário reescrever sua historia, que se apagou nos últimos anos. Nossa democrafia completou 21 anos em 2006, atingiu maioridade e até aqui quase nada mudou, continuamos como dantes no quartel de Abrantes, um navio a deriva, sendo levado ao acaso pelas correntes e pelos ventos.
Hoje, olhando para minha turma, sim, turma, porque hoje, depois de dois meses, posso dizer que somos uma única turma, e não uma separação de três salas que se uniram, pude perceber que somos uma grande exceção, somos vencedores, fomos bem guiados, somos estudados, somos saudáveis, temos a oportunidade de estudar (mesmo que por vezes essa oportunidade não seja aproveitada). Somos alfabetizados e estamos a ponto de concluir o Ensino Medio em uma boa escola, acompanhados por bons professores (em sua maioria) e hoje, graças ao espelho de nossos pais que lutaram por isso, temos a oportunidade de continuar nossos estudos por aí afora gratuitamente. Gosto sempre de lembrar que minha realidade, não é, nem de longe, a realidade da maioria das pessoas da minha idade, por isso repito, SOMOS VENCEDORES. Chegamos até aqui por nossa conta, uma luta, que mesmo pequena, é algo que nós fizemos por conta própria (com empurrões de pais e mães, mas por conta própria)
Agora, eu penso,já que estamos meio caminho andado, já somos exceção em quase tudo, procuremos ser exceção no aspecto ética. Temos uma visão eclética e generalizada do mundo, entendemos a importância da vivencia cidadã, mas será que, se continuarmos no marasmo, futuramente, nossos filhos conseguirão esse mesmo direito?
Nossa vida profissional começa agora, ao final do Ensino Médio, estaremos começando, decidindo. Devemos começar bem, para seguir bem, e terminar bem, afinal, por mais que haja repetição, eu afirmo: Só bem pode gerar e manter o bem. E elitismo não é algo que combine comigo, mas acredito que, se todos pensassem da mesma forma nesse assunto, futuramente teríamos dirigentes (e não governantes) e educadamente o povo brasileiro seria capaz de discernir melhor as questões em certo e errado. Aí sim, poderemos dizer “Meu país é democrático” com a certeza de que democracia, não é DEMO cracia. Já percebi que a vida é dura, mas tenho certeza que tudo isso vai valer a pena. Aprendi isso com Fernando Pessoa, afinal “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Tal qual o grito de guerra das torcidas nos estádios desse país afora: “Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”.
Um texto grande, contraditório e ao mesmo tempo complicado e para alguns que vão ler, até chega a ser chato, batido, mas é apenas para demonstrar que os tempos mudam, mas independente do tempo, quanto mais educação, mais amor pela pátria, mais luta, mais liberdade e mais trabalho houver, melhor será a qualidade de vida. Sempre haverá a necessidade de alguns ajustes e esses não devem passar batidos em nenhuma das gerações. Independente de sair da escola e ir direto para o mercado de trabalho. Sair da escola e ir para um ensino superior. Sejamos cidadãos competentes, corretos e responsáveis para que nos próximos 30 anos, ou menos, talvez mais, possamos ser motivo de orgulho pelos lugares que passamos. Orgulho às pessoas que nos ensinaram, pessoas que se doaram para que nós chegássemos até aqui. Afinal, disse e repito, de novo, e de novo, quantas vezes for preciso. Somos a exceção, somos vencedores.












Inspirado em aulas de sociologia, filmes sobre ditadura, conflitos com turma escolar e poema de Pedro Bial e Fernando Pessoa.

terça-feira, 6 de abril de 2010

"O poder é a informação"


Os acontecimentos sociais, politicos e econômicos fazem a industria da comunicação, seja num âmbito nacional ou internacional, girar a todo o vapor.
Inicialmente, é preciso analisar que a democratização da notícia fez com que o espaço de divulgação da mesma não se limitasse apenas aos bons e velhos jornais, que mesmo com o passar dos tempos continuam sendo referência na veracidade e detalhismo de informações, mas, permitiu que a instantaniedade da mesma abrisse um amplo espaço para vias multimidias, como a internet, aumentando assim, o número de leitores.
Observa-se a partir de uma parâmetro lógico de que se há um aumento do público, a competição para ver quem abrange maior fatia do mesmo, cresce em porcentagem agravante. Enquanto uns dizem que tempo é dinheiro, os comunicadores preferem dizer que tempo é informação. O mundo acontece a cada segundo e as noticias o acompanham. Visões diferentes, focos distintos, manchetes alternadas são algumas das ferramentas para abordar os interlocutores.
Em contrapartida nota-se que o desejo de ser o publicador pioneiro faz com que algumas noticias abordadas em qualquer um dos canais divulgadores não sejam verídicas ou contenham informações incorretas, prejudicando assim, o noticiado ou o expectador da mesma. Mas, já dizia o ditado de que a pressa é inimiga da perfeição.
Na razão do que foi exposto, pode-se concluir que nada é por acaso. Leitores buscando visões semelhantes às suas em artigos distintamente elaborados, guiados pela sede de conhecer o que acontece no mundo é o que faz-nos entender de que sim, é necessário questionar para saber, buscar para conseguir e informar-se para poder.

"Enquanto pessoas perguntam por que, outras pessoas perguntam por que não?
Até porque não acredito no que é dito, no que é visto.
Acesso é poder e o poder é a informação. Qualquer palavra satisfaz. A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz. O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio. Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia. O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa. A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento, na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto."

Renata Otaviano

domingo, 4 de abril de 2010

Nata/reza desregral



Eu comigo, a só
sinto a natureza
E com minha voz
canto essa certeza
Olha, olha só
são cores no papel
Sorria para nós
com cores pinto o céu
Sorria bem sem dó
pra viver de rir
Lá eis que la noz
veio para sentir
Seja o redor em pró-
sa lenta da vida
Desatando nós-
saída querida

Já rimei regrado
e agora perco a lógica
que na tuareza
a grandiosa sílaba métrica
fica ali, bem de lado

Como se o mundo fosse mesa
quisemos comer, sem ter cuidado

Terra, fogo, água e ar
e a vida resistindo
querendo sonhar
Lama, lareira, céu e mar
é esta casa sem teto
tentando não desabar

Sem perder a pose
num infinito descomunal
mel de sabor doce
Sol dá a vida
tão sensacional
Pense que aqui o ar não vemos
por ser essencial
E a flor bela cheiremos
olfato vendo o natural

Assim segue o rumo
nesta loucura sempre real
Assim voa o prumo
Nata/reza desregral

by Luiza Borba (foxy lady)

ps: este foi um poeminha que eu fiz para um trabalho de escola, minha professora não só não quis aceitar ele, como me deu zero...fazer oq, né? não podemos agradar a todos, se ela acha meus versos não valem sequer uma nota, e ela tem autoridade suficiente para impor isso... a única coisa que posso fazer é não ligar e seguir em frente
xP

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Risque o texto



Felicidade é o tipo de coisa que pode ficar bagunçada, espalhada por ai. É o tipo de coisa que não tem regra, métrica ou escrúpulo. É o tipo de coisa que não é bem uma coisa, e também não dá para imaginar. É o tipo de coisa com (mais de) mil explicações, conotações e especulações. É... hum.. tipo uma coisa esquisita mesmo, e, como o ar, só nos cabe acreditá-la e sentir lá no fundinho do peito seus carinhos refrescantes.
Eu estou aqui, sentada no chão da rodoviária, esperando minha carona para casa chegar, com este caderninho na mão, numa cena colorida e poética de se lembrar. Eu estou em mim, escrevendo só o que acredito.
E o mais triste mesmo é esta sensação - momentânea, repentina e frequente - deque só serei feliz quando encontrar alguém para amar como os poetas. Mas, realmente, eu nem sei se quero ver meu ser amando novamente, dói um tanto quando acaba a ilusão, e a gente fica achando que é um líquido, sem forma própria. Talvez eu não devesse ter escrito isso, não faz sentido nesse texto, não faz sentido nessa vida. Então está resolvido: risque este último parágrafo daqui, amável leitor.
Sei bem que você já deve ter reparado em minha letra excessivamente trêmula. É que me encontro dentro do ônibus agora, neste fim de domingo com gosto de alegria bem vivida. É a minha rotina louca em sensatez. É esta noite rouca em visível realidade.
Estive pensando naquele negócio de "a felicidade se encontra nas coisas pequenas". Não sei se é verdade. A felicidade pode estar em qualquer lugar, só que talvez a nossa assimilação seja limitada, e por isso os fragmentos nos marquem mais, uma forma engraçadinha de resumir fatos.
Outra coisa que não acredito muito é que ela consista na paz de espírito, visto que nós também gostamos de ser inquietos, e até na tristeza vemos graça.
Algo que provavelmente conseguirá exprimir essas duas últimas fugas da regra é o fato de que o universo inteiro deve ser magnífico, mas a parte dele que consigo guardar comigo no momento é este céu estrelado, só esta partezinha. Isso deixa o ser humano instigado e faz com que muitos tentem ir além, eles não estão em paz ou conformados, e são felizes assim, não são?
Pois é, a felicidade não deixa de ser toda essa imensidão, assim como uma estrela não deixa de ser grandiosa, eu é que só consigo ver pontinhos.
Este caderninho tem folhas pequeninas, o que me faz não ter certeza sobre o real tamanho destes meus pensares. Gosto de acreditar que eles medem o infinito, mesmo que usem poucas linhas, faz parecer que eu conheço as grandes dimensões do começo ao fim, acolhedora ilusão.
Sabe o que lembrei agora? Outro dia me falaram que meus textos são pesados, que eu falo demais neles (também). Sei lá se é verdade. O que você pensa sobre isso? Aqui eu estou escrevendo nada com coisa alguma mesmo, estes parágrafos não contam como exemplo. Na verdade eles só contam como duas folhas a menos no caderninho, ou como tempo esvaido à toa. Neste instante você deveria dizer que meu texto é adorável, e eu ficaria feliz assim. Não? Não vai dizer? Tudo bem, risque o texto inteiro se quizer, necessário leitor, não escreverei mais nada (neste texto).

by Luiza Borba (foxy lady)