"E o que vejo a cada momento
É aquilo que antes nunca tinha visto
E eu sei dar por isso muito bem
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo"
Alberto Caeiro
As pessoas costumam subir na vida devagarzinho, degrau por degrau. Eu, desprendida que sou, ergui-me numa perna de pau. Vesti-me de girafa para tomar lições de moral. E pr´aqueles que tentaram me derrubar, mostrei que também carrego minha cara-de-pau.
Não me leve a mal, toda girafa caminha devagar, e talvez eu demore um tempo para chegar a algum lugar. Aí é que está a poesia da coisa toda: ontem, eu ali, simbolizando um animal, mais alta, mas não superior, a todos, tinha apenas que seguir em frente, traçar uma linha com a visão e ir reta nela, às vezes parando para olhar as vidas tumultuadas ao meu redor, às vezes me agachando, e virando, para ninguém esquecer que dor é algo que todos sabem de cor (e salteado).
Sim, a caminhada é árdua e o pé pode doer, a perna pode ficar bamba, o tombo tem toda a chance de ser feio, mas o show deve continuar, e assim você aprende a ser você, e se superar em qualquer lugar, aprende a não olhar para chão e se levantar sem ter medo, aprende a se sacudir e entender na farra todo o segredo. E pretendo manter essa minha capacidade de gostar de enfrentar desafios, eu digo, se eu tiver que subir numa perna-de-pau e aprender novas formas de andar, eu vou, e vou sorrindo, com aquela gargalhada típica dos recém-nascidos.
Ainda não sou bem tudo o que posso ser, nem estava perfeita em cima de toda aquela madeira, eu só sabia exatamente o que tinha de fazer, eu só sei perfeitamente em que meios encontrar meu fim, como ir às alturas me encontrar em mim.
HAHA. E depois que se acostuma a ter uma perna de árvore anexada à sua, fica fácil subir num salto alto, você o enxerga mais como um salto tão baixo quanto tanta gente por aí. Isso não quer dizer, entretanto, que eles não podem mais te afetar, quer dizer apenas que se você quiser, pode tentar não se incomodar.
Sei bem que durante a travessia é possível adquirir um coração partido, um braço dolorido, um músculo, na coxa, desfalecido, however, qual é a graça de só rir na vida? É até gostoso passar por um risco tão grande e aumentar em questão de segundos o tamanho de um corpo tão, mas tão delicado, que à vista até parece suportar um ser muito frágil, mas isso é impressão que só fica na aparência mesmo, e ser aplaudida no final dá aquela sensação que não tem tamanho e supera qualquer mal-viver.
Pois é aos poucos que a gente vai reparando nessas sutilezas mesmo. Um ursinho de pelúcia com certidão de nascimento nos braços de uma adolescente é, assim como brincar de ser bicho grande e desengonçado na frente de todos, não uma criancice, e sim um ato de coragem. Aquele tipo de ser corajoso que consegue ser a si mesmo e despir-se sem escrúpulos na frente de todos, dando sua cara a tapa, até por ser essa cara-de-pau que já afirmei nas primeiras linhas, e saber que vai doer mais é na mão de quem bate.
Luiza Borba Chiesa agora é girafa também. Foi como uma palhaça linda em uma perna-de-pau. Seguiu calma e imponente ontem, e é lida por você hoje, ser presente.
Tento agora repassar vários fatos vividos como aprendizagem. Tento me expressar, me pintar para que este texto seja visto como paisagem. Olhe só que lindo: cheguei a pensar que ser criança mesmo é brincar com sonhos. Eu quero gravar na esperança esta imagem, aquele dia, ontem.
Muito obrigada a você ( por ter-me lida, inteirinha, até aqui)
Muita sorte à mim (por pretender ser-me, inteirinha, daqui até o fim)
Luiza Borba (foxy lady)