quinta-feira, 1 de abril de 2010

Risque o texto



Felicidade é o tipo de coisa que pode ficar bagunçada, espalhada por ai. É o tipo de coisa que não tem regra, métrica ou escrúpulo. É o tipo de coisa que não é bem uma coisa, e também não dá para imaginar. É o tipo de coisa com (mais de) mil explicações, conotações e especulações. É... hum.. tipo uma coisa esquisita mesmo, e, como o ar, só nos cabe acreditá-la e sentir lá no fundinho do peito seus carinhos refrescantes.
Eu estou aqui, sentada no chão da rodoviária, esperando minha carona para casa chegar, com este caderninho na mão, numa cena colorida e poética de se lembrar. Eu estou em mim, escrevendo só o que acredito.
E o mais triste mesmo é esta sensação - momentânea, repentina e frequente - deque só serei feliz quando encontrar alguém para amar como os poetas. Mas, realmente, eu nem sei se quero ver meu ser amando novamente, dói um tanto quando acaba a ilusão, e a gente fica achando que é um líquido, sem forma própria. Talvez eu não devesse ter escrito isso, não faz sentido nesse texto, não faz sentido nessa vida. Então está resolvido: risque este último parágrafo daqui, amável leitor.
Sei bem que você já deve ter reparado em minha letra excessivamente trêmula. É que me encontro dentro do ônibus agora, neste fim de domingo com gosto de alegria bem vivida. É a minha rotina louca em sensatez. É esta noite rouca em visível realidade.
Estive pensando naquele negócio de "a felicidade se encontra nas coisas pequenas". Não sei se é verdade. A felicidade pode estar em qualquer lugar, só que talvez a nossa assimilação seja limitada, e por isso os fragmentos nos marquem mais, uma forma engraçadinha de resumir fatos.
Outra coisa que não acredito muito é que ela consista na paz de espírito, visto que nós também gostamos de ser inquietos, e até na tristeza vemos graça.
Algo que provavelmente conseguirá exprimir essas duas últimas fugas da regra é o fato de que o universo inteiro deve ser magnífico, mas a parte dele que consigo guardar comigo no momento é este céu estrelado, só esta partezinha. Isso deixa o ser humano instigado e faz com que muitos tentem ir além, eles não estão em paz ou conformados, e são felizes assim, não são?
Pois é, a felicidade não deixa de ser toda essa imensidão, assim como uma estrela não deixa de ser grandiosa, eu é que só consigo ver pontinhos.
Este caderninho tem folhas pequeninas, o que me faz não ter certeza sobre o real tamanho destes meus pensares. Gosto de acreditar que eles medem o infinito, mesmo que usem poucas linhas, faz parecer que eu conheço as grandes dimensões do começo ao fim, acolhedora ilusão.
Sabe o que lembrei agora? Outro dia me falaram que meus textos são pesados, que eu falo demais neles (também). Sei lá se é verdade. O que você pensa sobre isso? Aqui eu estou escrevendo nada com coisa alguma mesmo, estes parágrafos não contam como exemplo. Na verdade eles só contam como duas folhas a menos no caderninho, ou como tempo esvaido à toa. Neste instante você deveria dizer que meu texto é adorável, e eu ficaria feliz assim. Não? Não vai dizer? Tudo bem, risque o texto inteiro se quizer, necessário leitor, não escreverei mais nada (neste texto).

by Luiza Borba (foxy lady)