Eu estou aqui, sentada no chão da rodoviária, esperando minha carona para casa chegar, com este caderninho na mão, numa cena colorida e poética de se lembrar. Eu estou em mim, escrevendo só o que acredito.
E o mais triste mesmo é esta sensação - momentânea, repentina e frequente - deque só serei feliz quando encontrar alguém para amar como os poetas. Mas, realmente, eu nem sei se quero ver meu ser amando novamente, dói um tanto quando acaba a ilusão, e a gente fica achando que é um líquido, sem forma própria. Talvez eu não devesse ter escrito isso, não faz sentido nesse texto, não faz sentido nessa vida. Então está resolvido: risque este último parágrafo daqui, amável leitor.
Sei bem que você já deve ter reparado em minha letra excessivamente trêmula. É que me encontro dentro do ônibus agora, neste fim de domingo com gosto de alegria bem vivida. É a minha rotina louca em sensatez. É esta noite rouca em visível realidade.
Estive pensando naquele negócio de "a felicidade se encontra nas coisas pequenas". Não sei se é verdade. A felicidade pode estar em qualquer lugar, só que talvez a nossa assimilação seja limitada, e por isso os fragmentos nos marquem mais, uma forma engraçadinha de resumir fatos.
Outra coisa que não acredito muito é que ela consista na paz de espírito, visto que nós também gostamos de ser inquietos, e até na tristeza vemos graça.
Algo que provavelmente conseguirá exprimir essas duas últimas fugas da regra é o fato de que o universo inteiro deve ser magnífico, mas a parte dele que consigo guardar comigo no momento é este céu estrelado, só esta partezinha. Isso deixa o ser humano instigado e faz com que muitos tentem ir além, eles não estão em paz ou conformados, e são felizes assim, não são?
Pois é, a felicidade não deixa de ser toda essa imensidão, assim como uma estrela não deixa de ser grandiosa, eu é que só consigo ver pontinhos.
Este caderninho tem folhas pequeninas, o que me faz não ter certeza sobre o real tamanho destes meus pensares. Gosto de acreditar que eles medem o infinito, mesmo que usem poucas linhas, faz parecer que eu conheço as grandes dimensões do começo ao fim, acolhedora ilusão.
Sabe o que lembrei agora? Outro dia me falaram que meus textos são pesados, que eu falo demais neles (também). Sei lá se é verdade. O que você pensa sobre isso? Aqui eu estou escrevendo nada com coisa alguma mesmo, estes parágrafos não contam como exemplo. Na verdade eles só contam como duas folhas a menos no caderninho, ou como tempo esvaido à toa. Neste instante você deveria dizer que meu texto é adorável, e eu ficaria feliz assim. Não? Não vai dizer? Tudo bem, risque o texto inteiro se quizer, necessário leitor, não escreverei mais nada (neste texto).
by Luiza Borba (foxy lady)