quinta-feira, 20 de maio de 2010

Eu acredito nesta árvore do coração!

Um carrinho de bebê beirando o esgoto, e eu, olhando, só olhando. Presenciaram essa cena, além de mim, o odor típico e desprezível de coisas podres, o céu cinza de tristeza, alguns carros apressados e desatentos, e ali, bem no cantinho esquerdo, como quem não quer ser notada, estava parada, mirando tudo, sentindo muito, via-se lá, a inocência.
A vida é tão esquisita, e nos faz pensar tanto. Parece que ela espera de nós um olhar de compreensão. Não havia um bebê dentro daquele carrinho, mas tinha um mundo de interpretações, e isso me bastou.
As pessoas deviam ser mais preparadas para enfrentar estes retratos tão preci(o)sos da sociedade, que aparecem assim, sem mais nem menos, no começo de uma manhã rotineira e movimentada. Na verdade, eu é que não esperava por aquele susto. Era como se a pureza, a matéria-prima da existência, o começo de tudo, a força, a alegria, estivesse ali, dentro daquele "porta-serzinhos", envelhecendo precocemente ao ver o fim que construímos para ela, para ele, para tantos, para nós. Mais insensível que os pais de Peter Pan ao decidir-lhe a profissão ainda no berço. A sociedade encarregou-se de mostrar a morte para a vida.
Que imagem mais cruel, de partir o coração. O carrinho era calmo, azul, inspirava desespero e expirava esperança, parecendo mais uma árvore do coração.
E, no fim, é assim que tem de ser: quando o nosso inimigo for uma imensidão sem fim, for as lágrimas pretas pela face humana, for a escuridão incansável, seremos, então, a esperança! Uma árvore sutil com crescimento interno.

by Luiza Borba (foxy lady)

domingo, 2 de maio de 2010

Já estou narrando

-Mas se eu vejo verde, e um daltônico vê azul, é inevitável que a verdade seja relativa. Somos animais incapazes de julgar atitudes, de diferir certo e errado, embora queiramos inutilmente chegar a um consenso.-Desdenhou o senhor calvo.
-Não é consenso, e sim bom senso, até porque, se é verdade que a verdade não existe, como afirmar a veracidade desta sentença?- Riu-se a mulher de dedos finos. - E você, Celina, o que tem a nos dizer a respeito?
-Eu, sorriu a mulher com um sorriso que deixou esta narradora confusa (não sei bem se era timidez ou malícia de quem sabe algo), digo apenas que há mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia.
Ela disse apenas, e aquilo bastou. Não era muito de falar, achava muito mais interessante fazer uso de sua visão para o contato com o mundo exterior, como se a alegria estivesse nas coisas pequenas e ela quisesse manter-se atenta para não perder nada. E fora o fantasma de seu pai que a ensinara a calar...
Celina, naquele dia de sua infância, estava discutindo com seu pai, faltara dinheiro para as compras domésticas e ele pegou uma quantia do cofrinho da filha. Justo aquelas moedas conseguidas a custo, ele não sabia quão difícil tinha sido aquele ganho? Como a menina se zangou! E gritou tanto que não ouviu seu pai dizendo, meio constrangido, "eu te amo", nem viu a barra de chocolate em suas mãos. O arrependimento fez dela essa pessoa observadora que todos veem.
No demais, ela conservava sua alma de criança curiosa ainda agora, aos cinquenta e cinco anos. Isso a rejuvenescia, tinha semblante de quarenta primaveras intactas. Seu sorriso acolhedor foi o que realmente me cativou, o que originou este texto, nesta posição observadora que me encontro pra narrar essas peculiaridades.
Celina, quieta naquele canto tinha presença mais notável que os outros dois. Serena, Celina, sereia de um mar de pensamentos. Ser ela. Só ela o é!

by Luiza Borba (foxy lady)

sábado, 1 de maio de 2010

Como uma janela se abrindo

Houve um tempo em que a minha maior necessidade era a de me incluir no meio de uma sociedade já formada. O contato com as primeira vozes, com alguns sons me ajudaram e reconhecer a minha propria imagem refletida no espelho. Nesse momento foi com se um raio de luz invadisse a escuridão de minhas idéias. Aproveitei a experiência do nascimento e cresci.
Houve um tempo em que tirar minhas proprias conclusões foi necessesário. Cair de bicicleta, levar choque ao colocar o dedo na tomada, desenhar atrás dos papéis importantes que os pais guardavam para que nem amassassem, foram algumas das coisas que me levaram ao profundo amadurecimento, até porque quem nunca fez uma dessas coisas que atire a primeira pedra (Não, por favor, não me matem apedrejada!). Vivi o que era preciso na infância e isso me serviu de expência.
Houve um tempo em que a minha a mente se abria para um mar de idéias para que eu pudesse construir o meu intelecto. Tudo era muito mágico. Tinha a sensação de estar de frente a um ilusionista, pois ao mesmo tempo que coisas apareciam, outras sumiam. As letras sempre me causaram uma fascinação bem mais considerável que os números, porém, fazer não só o que gosto foi uma das coisas que me ensinaram. Conviver com pessoas diferentes de mim em gênero, número e grau foi um desafio muito mais árduo do que o primeiro contato com a fórmula de baskara, e de valia muito maior que um anel de diamantes ao qual fui exposta. Aproveitei e ainda aproveito os últimos dias que me restam dessa incrível estadia dentro de uma verdadeira máquina do saber.
Hoje sinto como se estivesse diante de uma janela em que cada dia noto mudanças tanto para o lado de dentro quanto para o de fora. Não sei ao certo o que encontrarei quando decidir brecar meu analismo crítico, fechar a janela e abrir a porta de uma casa em construção. "Sei que nada sei". Não sei nem ao menos que motivos me inspiraram de escrever sobre tal assunto. Só sei que cada dia me reserva a sua própria aprendizagem e espero poder usar todos os tijolinhos que fiz em cada vez que cai para poder terminar a construção essa tal casa a qual chamo de vida.

Renata Otaviano