quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Depois penso num título

Em todas as épocas, nos quatro cantos do mundo, a sociedade enfrentou um fenômeno que hoje é visto com maus olhos: a gravidez na adolescência. O que mudou foi que, enquanto o futuro das jovens era casar e ter filhos, isso não era um problema. Do mesmo modo, para os índios, alguém de sua comunidade que tenha quatorze anos e esteja grávida é algo natural. Porque então nos dias de hoje e em nossa sociedade isso é motivo de preocupação e repulsa?
Essa não é uma pergunta tão difícil de responder. Atualmente as condições de vida e as prioridades das adolescentes mudaram. A estrutura de uma mulher inclui diversos outros fatores. Somos preparadas para saber sustentar uma família. Nossas preocupações são as instabilidades da vida e o rolo compressor do mundo.
Se uma família surge neste período de aprendizagem, se um filho nasce na época em que mais nos dedicamos ao divertimento e descomprometimento em nossas vidas, a realidade que já nos estava estipulada muda completamente.
Nossos dias e o futuro da criança que estamos gerando serão duvidosos. Sem mencionar os riscos durante a gravidez, visto que o nosso corpo não está inteiramente preparado para esta brusca mudança. O mundo dá voltas, nosso foco mudou e ser mãe não cabe mais na realidade de uma adolescente.
by Luiza Chiesa (foxy lady)

Detalhe Importante

Você
é som
no espaço
É do coração
o descompasso
É a vida
que aos poucos
laço
É a importância
que realço
A memória
que não
me desfaço
É dançar
na chuva
descalço
É a distância
do abraço
É na multidão
A esperança
A pausa pra respiração
A rima que a inspiração alcança
by Luiza Chiesa (foxy lady)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que é que a baiana tem?

Podia ser um conto de fadas, mas não é. Agora, se você leitor não acredita em amor à primeira vista, ou então em um amor para toda a vida – e quem sabe, para a eternidade – sinto dizer que o melhor mesmo é ler minhas linhas até o final, para, se quiser, ter mais uma história que comprove sua tese.
Aconteceu que no Peru, un viajero Inglés llamado* Geoff Belford fell in love** por uma baiana, como numa mistura incrível de culturas. Era um dia quente e o nosso turista rumava para Nazca, preparado para tudo, com sua câmera fotográfica, binóculos, uma troca de roupas, dinheiro estrategicamente colocado numa pochete, tênis já antigo, óculos de sol, algumas frutas e o celular desligado.
Ele estava em uma van que reunia por si só dez pessoas vindas de todos os cantos do mundo e, é claro, o motorista. Belford estava ansioso com o passeio, e ficou impaciente quando uma francesa pediu para que parassem em algum lugar para levar sua filha ao banheiro. Não havia nada que pudesse fazer nessa situação além de se conformar e descer da van também (já sentia uma ligeira necessidade de esticar as pernas). E foi ali, entre uma van e um banheiro, que ele viu passar uma negra pequena, com todos os seus trajetos e os cabelos encaracolados e soltos, rindo, cheia de si, com uma bolsa na mão e todo o charme do mundo no rosto. Aquela mulher descompassou Geoff de um jeito que quando ele voltou a si, já tinha tropeçado em uma pedra e estava agora no chão, ainda com os olhos fixos nela.
Ela, percebendo o tombo, correu para acudir o homem estranho que a este ponto já acreditava ter encontrado o amor de sua vida. O inglês se sentiu constrangido com a situação, e extremamente lisonjeado por ser o centro das atenções da moça no momento. Não teve tempo para saber muita coisa, descobriu que ela era brasileira e morava em Salvador. O que ela estava fazendo ali não se sabe, afinal, assim são as mulheres misteriosas: costumamos não saber muito sobre elas, e são tão paralisantes que podem até ser chamadas de musas, para os poetas.
É, o tresloucado poeta inglês passou o resto de seus dias no Peru amando nossa pátria amada apenas por ter como cidadã o seu grande amor. Resolveu no aeroporto que sua vida não tinha sentido sem a mulher do nome oculto, e veio parar exatamente no coração da Bahia. Ele ainda não sabia o que tinha naquela baiana de tão especial, o melhor então seria reencontrá-la e descobrir. Quando chegou em Salvador, viu muito mais do que esperava: bateu papo com o acarajé, entendeu que aqui não se fala espanhol, e sofreu muito por causa disso, depois percebeu da pior forma que muita feijoada dá indigestão e por fim conheceu muitas pessoas, das mais diferentes personalidades. Entre tudo isso estava seu foco, o motivo de sua vinda. Pensou que a melhor forma de encontrar sua amada (que não nos sonhos), seria publicar um anúncio no jornal. Com certa dificuldade conseguiu comunicar-se com todos e viu na segunda semana neste país novo em sua vida a matéria sobre a busca pela baiana publicada num jornaleco:
“Procura-se mulher perfeita!
Inglês procura uma baiana misteriosa
Durante uma viagem ao Peru, o inglês Geoff Bertold […] conheceu e se sentiu atraído por uma baiana. Foi uma conversa rápida e ele nem sequer ficou sabendo o nome da moça. Agora está em Salvador com a ideia fixa de reencontrar quem pode ser o amor de sua vida.”

Não deixou, no entanto, de procurá-la sozinho mesmo, entre as ruas da calorosa Bahia. Só que, com o tempo, e com as morenas/ negras/ mulatas/ brancas, enfim, com a beleza brasileira, aquela uma de nome desconhecido, aquela uma que havia o prendido e roubado seu coração, aquela uma, aquela lá, aquela só-mais-uma, aquela era a que ele tinha se equecido.
Nunca reviu o amor de sua vida, de sua primeira vista. Se casou alguns anos depois com outra negra pequena, com todos os seus trajetos e os cabelos encaracolados e soltos, risonha, cheia de si, com uma bolsa na mão e todo o charme do mundo no rosto, enquanto ele ria ao lembrar que um dia no Peru, un viajero Inglés llamado* Geoff Bertold fell in love** por uma baiana, como numa mistura incrível de culturas.

un viajero Inglés llamado: do espanhol, significa "um viajante inglês chamado"
fell in love: do inglês, significa "se apaixonou"

by Luiza Chiesa (foxy lady)

domingo, 20 de setembro de 2009

Improviso

Dedico minhas linhas aos esfomeados
Penso em todos aqueles
que precisam se alimentar
constantemente
Sonho com todos aqueles
que deixam de fadigar
lentamente

Grito pra quem quiser ouvir
E eu só preciso de viver
de ousar me libertar
de amar a beira mar
para ser

Com meus princípios básicos
Ás vezes
Com dores e gestos no meio da rua
Vou seguindo minha história
Vou tocando minha vida
na chuva
Sol
na ida

Todos os dias
preciso de
cor
amor
sabor
e um pouco de prosa
assim como toda rosa

Todas as noites
preciso de
tempo
acolhimento
contentamento
e um pouco de braço
para receber um abraço

Porque as pessoas tendem
a ser feliz
Se rendem
e pedem bis
quando um sorriso paira no ar
É mesmo bonito de ver
É mesmo especial de encontrar
As pessoas sendo felicidade
As pessoas tendo a sua cara metade
E o curso das coisas naturalmente seguindo
Sem findar
by Luiza Chiesa (foxy lady)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Água chamejante

Num olhar vejo
a vida cair
inúmeras vezes
no grupo de vidas
em forma de água

A água me chama
para brincar
Me acende a chama
um sopro de vida em forma de mar
lagoa ou cachoeira
banho de chuva
Não preciso rezar
Só me jogar

Pulo, me solto,
Desvencilho-me do mundo
Caio em transe profundo
e começo a brincar
Logo,
num instante
já sei rimar

A água chameja
Se mistura com o ar
A natureza festeja
Mais um dia para sonhar
by Luiza Chiesa (foxy lady)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ensaio

Agora um pouco de conversa. Só pra lembrar que o 7 de setembro foi semana passada. Independêcia ou morte? Você provavelmente não pensou nisso no meio do seu feriado. Vamos pensar agora.
Você se orgulha do Brasil? Provavelmente não. E isso não é culpa sua, se olharmos de certo modo, a história de nosso país já começou torta. Agora, por outro ângulo, nossa pátria (amada?) sempre foi roubada por todos os lados, e, mesmo assim, estamos trilhando o nosso caminho para - num futuro razoável - sermos potência.
A grande qualidade (e o pior defeito) do Brasil, assim como de todos os países, é o povo. É a população que forma um país, e é portanto, merecedora do mérito por seus grandes atos, e por seus momentos errôneos. O povo brasileiro me causa admiração cada vez mais a cada dia.
Nós nos concientizamos sozinhos de que não temos aqui condições suficientes para se ter muitos filhos. Não foi preciso que o governo implantasse nenhum método contra as taxas de natalidade, e mesmo assim, os nossos índices demográficos baixaram em escalas e com impacto tão grande quanto o de países como a China, que joga sujo para controlar o número de habitantes em seu país.
Nossa nação é calorosa, as pessoas são descontraídas, ao andar pelas ruas pelo menos um ser sorri. Temos ginga e quando queremos, tomamos decisões rápidas e precisas. O Brasil não é mais especial que qualquer outro país, e nem menos ignorante às falhas. Mas, pense comigo: nós nascemos e ele nos acolheu, cuidou de nós, nos deu casa, comida e estamos aqui de roupa lavada, ele riu de nossas piadas sem-graça, lamentou em nossos momentos de angústia, ele vive conosco desde que nascemos e influencia diretamente em todos os nossos atos - sim, porque dizer que o espaço não influencia uma pessoa é tolice, afinal, se tivéssemos nascido na Austrália falaríamos inglês, então, se até o que falamos depende do ambiente em que vivemos... - logo, ele merece um pouco do nosso amor. Amar a nossa pátria.
Não penso que ser patriota significa amar a bandeira e os símbolos de seu país. Nem penso que seja defendê-lo à qualquer custo. Acredito que seja simplesmente amá-lo, criticá-lo, vivê-lo, e por fim, melhorá-lo e merecê-lo.
Sim, melhorá-lo. Pois, assim como uma mãe ensina um filho, um filho, com o tempo cresce, e ensina a mãe. E, citando Gullar, nós somos comuns sim, mas são muitos homens comuns, e podemos juntos, formar uma muralha com nossos corpos de sonhos e margaridas. Nós podemos e somos sim uma muralha, temos todo o poder de melhorar nosso país, afinal, dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada: BRASIL!

by Luiza Chiesa (foxy lady)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A máscara nacional

Verde, amarelo, azul, branco e um céu estrelando o positivismo fundado por August Comte nas palavras "Ordem e Progresso". Você reconhece esta imagem? É claro que reconhece, e essa não deveria ser a pergunta, na verdade eu deveria perguntar-lhe se o seu mundo é essa maravilha garantida nessa bandeira. Será que o mundo dos brasileiros é bem representado pelas cores alto-astral que nos simbolizam todos os dias em todos os momentos?
Atletas sem um lugar adequado para treinar. Músicos sem a aceitação da sociedade. Advogados, psicólogos e psiquiatras loucos. Crianças sem pais, sem paz, sem um país que lute por sua paz. Contas no exterior. Impunidade. Dívida externa. Uma pátria querendo o pior para seus "filhos", os melhores empre saindo da nação. Os piores reinando. Este é apenas o começo do Brasil.
Não sei se me orgulho daqui.Não sei se as coisas boas realmente superam todo o resto. Não sei nem ao menos quem devo culpar por tudo isso: o povo, o público, a classe operante, os pobres, os ricos, ou os nossos representantes.
Onde está a prática da teoria "Viver para outrem" na vida do mendigo da esquina? Ele é ajudado por quem? Pelas cores da bandeira?
Em 1889 foi criado nosso símbolo. Raimundo Teixeira Mendes, Miguel Lemon e Décio Vilares tiveram que trabalhar duro para esconder a miséria do Brasil, se basearam em várias correntes ideológicas para fantasiar uma magia descomunal, que realmente existe, mas está tomada por outro lado que não foi citado.
Não é de samba, ginga e biodiversidade que se constrói um país. Eles se esqueceram disso na criação da bandeira nacional. Quanta amnésia!
Todavia, mesmo que fosse, o samba já perdeu o seu lugar para o "créu" e nós estamos sumindo com a biodiversidade. A ginga, sortuda (ou coitada?), foi a que sobrou, o que até me dá uma certa esperança perante o resto.
O céu que ilumina a todos na máscara nacional é o da maravilhosa Rio de Janeiro, que tenta seguir a risca a marcha do soldado cabeça de papel.
Em 1992 uma lei foi feita para alterar a bandeira, permitindo que todos os estados brasileiros e o Distrito Federal pudessem entrar na pizza azul que encontra-se dividida entre a classe operária e a classe operante.
Como você pode ver, aqui tudo acaba em pizza, e este texto não será diferente, pois mesmo com tudo isso e sem entender o porquê pessoas sem patriotismo nenhum cantam o hino nacional brasileiro olhando para a bandeira do Brasil, eu não estaria criticando tanto o NOSSO país se não o amasse e quisesse o melhor dele. É justamente por ser brasileira e não desistir nunca que acredito na melhora do Brasil e nunca deixarei de amá-lo.
Verde, amarelo, azul, branco e um céu estrelando o positivismo. Sim, eu reconheço esta imagem.

by Luiza Chiesa (foxy lady)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Saudação

Me pediram um texto sobre paz para um concuso na escola ano passado (estava na sétima série). O resultado:

A saudação
A vida que você pensa querer já virou motivo de saudação. Você quer paz, pensa nela como um ideal, e eles sabem disso. Eles usam os seus desejos para serem educados. Quantas vezes não ouve-se a falsidade dizendo:"Vá em paz"? Corpos disfarçados fingindo que sabem alguma coisa.
Você abre a janela enquanto eu começo a narrar sua história. Mas não é uma história comum. Serei maldosa o suficiente para contar-lhe o seu futuro. Agora você está parada olhando para o horizonte, pensando que a paz realmente existe. Seja ela o que for. Amanhã você percebe que essas três letras não passam de uma saudação ilusória de bocas sedentas que nos consomem com suas palavras insanas. Os dias passam, e logo você estará no mesmo ponto que eu: na saudação.
Não me convém pensar na pomba e na bandeira branca sabendo que a paz que elas representam faz a frase:"Peace through strenght" (elouquente, não acha?).
Não tenho mais o romantismo que você tem, e você só o tem por enquanto. Hoje você anda pela rua e vê flores, mas mais depressa do que imagina você verá uma bala perdida acertar seu irmão. Mencionar a paz em nossas vidas? Por quê?
A educação que recebemos, e o mundo em que vivemos não permite a paz, pois ninguém sabe de fato o seu significado, e, talvez, ninguém queira saber.
É possível que a paz seja como o amor: algo irresistível que tentamos conseguir a qualquer custo, e que no final nos deixa sem esperança.
Mas na verdade, a paz não passa de um conceito inventado tentando se realizar. Só espero que consiga antes que você chegue à saudação. É urgente... é paz!
by Luiza Chiesa (foxy lady)

Tudo é nada sem você

Eu mulher
Você mulher
Sua mãe mulher
Clarice Lispector mulher
Grace Kelly mulher
Maria, Maria mulher
A Terra mulher
A vida mulher

Ser mulher?
Quem é?

Procuro a cara deste ser
E descubro que ele é quem está na cara
Dos passo cansados
Da pele envelhecida
Aos sorrisos doces
A boca agradecida
Mulher é mulher
O bem querer que dá vida
O sentimento que chora
Na hora da partida
A força que luta
Sempre sempre cabeça erguida

Ser mulher?
Quem é?

Procuro a cara deste ser
E descubro um mundo em seus olhos
Do seu bebê que nasce
Ao seu bebê adulto
Da água pua de um rio
À casa que esquece lá fora o tumulto
Mulher é mulher
Mas já foi insulto

Ser mulher?
Quem é?

Mulher que cria o mundo
E que guia agora seus olhos
Pelo meu poema moribundo
Não pense na qualidade dos versos
Pois até mesmo as flores ficam ao chão de seus pés
Atente apenas para a verdade ao fundo:
O mundo não gira sem você
A vida não segue sem você
O seu filho não existe sem você
Nada é sem você
Apenas porque,
Tudo é nada sem você
by Luiza Chiesa (foxy lady)

Desespero

Nunca dormiu cedo
Sempre acordou tarde
A vida não passou
Ficou

Como se lastima
quando não se tem nada a questionar?
Para que olhar para o céu
se o que se quer é olhar para o mar?

Nunca dormiu cedo
Sempre acordou tarde
A vida já passou
Soprou

Tudo corre na magia do relógio
Tic-tac vem o medo
Tic-tac não vá cedo
Quando passa
Tic-Tac
O relógio não faz mais
Tum tum tum é o que se ouve
Por favor, não olhe para trás

Como se ilumina
Quando não se tem nada a observar?
Para que escolher caminhos
Se o que a vida quer é não facilitar?

A hora mais tardia chega para dormir
Ao menos uma vez
Cedo acordará
E num piscar de olhos
Já não mais se lembrará

Essa é sua sina
Desespero que alucina
Apenas uma sina
Mais uma sina
Que ilumina
Ás vezes facina
E descobre uma mina
Rimando sempre sempre
Não tem fim.
by Luiza Chiesa (foxy lady)

A Sem Vergonha

Quer saber qual é a visão da sociedade a meu respeito? Então talvez essas frases - adquiridas árduamente através de meus gestos espontâneos durante toda a minha vida - possam te ajudar:
"Por que você não é... normal? Por que você mudou desse jeito? Nossa, por que você tomou banho de chuva? Hey, aquela garota tem uma energia tão boa, tão forte, senti quando ela entrou aqui! De que filme você saiu? Você parece um personagem. Você definitivamente vem e sempre muda a opinião de todos quando começa a falar. Eu gosto porque você sempre fala na cara. Por que você sempre fala as coisas na cara? Um psicólogo pode te ajudar. Sua louca. Você, assim, não tem vergonha nenhuma de ser você, se assumir e fazer o que tiver vontade na frente dos outros... que esquisito! Você não canta bem. Você nunca vai fazer nada direito. Você nunca será uma guitarrista. Você é muito inconveniente. Você cultua Satã. Ficou ótimo! Excelente! Ficou horrível. Você é muito complexa. Você é A garota."
É isso. Essa é a incrível visão que se tem de mim para uma esmagadora maioria que nunca conseguiu me esmagar.
Engraçado isso: nesse ponto de meu texto eu travei, não conseguia prosseguir. Mas é importante ressaltar que estou escrevendo em minha cama, e que do lado dessa cama existe uma janela. Continuando, no momento em que a criatividade me deu um golpe, eu coloquei meus pés para fora da janela, de modo a ficar com o tronco deitado na cama e a cabeça virada para o céu.
Foi então que me deparei com uma nuvem imensa e branca (que pode representar o todo ao meu redor) movendo-se lentamente para longe de minha casa, e um passarinho voando (que pode me representar). Ambos estão no céu. A diferença é que o passarinho voa por vontade própria quantas vezes quiser mais rápido que a nuvem, na direção que quiser, pelo motivo que bem entender. Enquanto a nuvem só voa por vontade do vento, na velocidade do vento, pelo motivo que o vento bem entender.
O encontro dos dois, no entando, não é inválido. Afinal, o passarinho quando passa pela nuvem, deixa buraquinhos, e leva consigo floquinhos da mesma. E também, sem esse encontro magnífico, a garota com o pé para fora da janela não prosseguiria com suas linhas. Vê como tudo se encaixa numa perfeição descomunal?
Pensando nisso tudo, eu, com o pé já do lado de dentro do quarto, cheguei a conclusão de que ninguém é só uma pessoa. Todo somos PESSOAS, pois, se uma nuvem muda um passarinho, e um passarinho muda uma nuvem, todo mundo muda todo mundo quando se cruzam os caminhos. Ninguém é completamente igual depois de uma conversa.
Mesmo assim, não deixamos de ser apenas mais um. São muitas pessoas no mundo para sermos especiais para todos. Isso inclusive me remete a uma frase do nosso querido Oscar Wilde:"As tragédias alheias são sempre de uma banalidade desesperante". É exatamente isso. Há muito tempo deixamos de viver em comunidade para viver nesse agrupamento de pessoas chamado sociedade. Logo, não somos generosos, adoramos o nosso pior lado e vemos os outros com a indiferença do "mais um".
Vendo dessa forma, eu existo, e estou apenas arredondando a conta das bilhões de pessoas iguais as outras. Não tenho o menor sentido para qualquer ser que viva na China, na Turquia, na Russia, no Polo Norte ou em Botsuana.
Agora, pensando nos buraquinhos da nuvem, eu sou tão fundamental quanto aquele passarinho. Eu sou essencial na vida de um grande número de pessoas. Sem mim, quem iriam criticar? Sem mim, quem mudaria as opiniões? Sem mim, quem teria as minhas histórias para contar? E com mais uma de mim, quem seria a única eu? Sem mim, quem seria a louca sem vergonha que não tem escrúpulo nenhum quando o assunto é as necessidades da vida?
Sim, eu sou uma sem vergonha, e quando passei aquele dia na praia, o mundo inteirinho se encheu de graça e ficou mais lindo por causa do amor. Sim, eu sou uma sem vergonha necessária que pode ser comparada com uma flor num jardim: quando é apenas avistada, pode parecer igual a todas as outras, mas ela passa a ter valor a medida que se cuida dela, que se conversa com ela. Represento isso para meus pais, por exemplo, represento isso para minhas amigas, por exemplo, represento para minha vida, por exemplo. E na verdade, todos representamos isso para tais pessoas. Sim, sou uma sem vergonha, pois sei que tanto os buraquinhos na nuvem quanto os floquinhos no passarinho podem sumir se o vento bem quiser, e mesmo assim não desisto de sonhar. Sim, sou uma sem vergonha, apenas por saber da falta que faria para todos a minha volta, até aqueles que não conheço. Sim, sou uma sem vergonha, porque sei que me comentam. Sim, sou A sem vergonha.
by Luiza Chiesa (foxy lady)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Narradora

_Dê-me a faca. Eu a enfio em meu coração e você fica com o sangue.
_Trato fechado.
A narradora dessa velha história não narrará os minutos que se sucederam. Depois ela guardou o sangue em uma caixinha velha de madeira e ficou esperando o líquido virar sólido. Ela se chama
Françoeire.A garota não sabia se estava triste. O garoto não sabia se estava morto. Os dois sentiam muito mais o vento que bagunçava/ balançava/ baforava os cabelos.A cena se passou em um bosque, no meio do nada, na presença do sol frio de inverno. Agora caem lágrimas dos olhos de Françoeire. Ela não gosta de lembrar. Na hora não tinha certeza se estava triste. Mas nesse instante ela escreve, e chora, e escreve que chora. E nesse instante ela sabe o que ele não sabia: ele está, e estava morto.
A narradora dessa velha história vai parar de escrever um pouco. É preciso força para cavar a terra da mente e desenterrar uma memória antiga.
Foi numa tarde de terça-feira. Estava quase anoitecendo. O encontro foi afetuoso. Estavam tentando aproveitar cada segundo. E os dois faziam isso muito bem.
Ele sempre disse que Françoeire tinha traços bem definidos. Ela sempre dizia que ele tinha uma voz definitiva. Dessa vez não precisaram dizer. Nunca precisaram , na verdade, e dessa vez não disseram.
Ele morreu sem agonia, nos braços de quem amava. Tudo era tão claro. Quer dizer, a vida nova viria depois de uma morte simples. O sangue seria para que a seiva da vida que se acabava não se acabasse também, apenas se solidificasse.
A narradora dessa velha história amava o primeiro ser dele, tinha medo que ele mudasse muito com aquela morte. Mas, se isso acontecesse, ela poderia mostrar a caixinha velha de madeira para o morto/vivo, e ele não perderia seu rumo nunca.
O que morria naquele momento, de qualquer forma, não era todo um ser, e sim a visão deste ser. Ele passava a ver tudo de uma nova forma.
Esse pensamento contentou Françoeire. Morria ali a inocência natural que as pessoas têm na primeira fase da vida, nos primeiros anos de existência, que ele chamou de infância.
A narradora dessa velha história o viu renascer pela primeira vez. Ela foi a única que viu e sentiu. Presenciaram essa cena também o bosque, o céu e o esquilo com a noz (sim, o esquilo com a noz, você também pode vê-lo, ele está quase escondido ali, no canto direito da imagem).
_Trato fechado.
Ele renasceu.
Depois, não foi como ela pensara. Tudo mudou, e não somente a visão das coisas. A percepção, a ação, a animação, tudo. A inocência agora não era nada além de seiva sólida numa caixinha velha de madeira. Não se podia reverter a morte. E a nova vida dele seguia. E o velho amor deles diminuia.
Em casos como este deveria ser possível remediar.
_Trato fechado.
Que tolice. E ela agora sofria, e não sua inocência, mas sua alma morria. E era tudo culpa dela. Sim. Ela. Françoeire. A narradora. Eu.
Nunca recuperei minha alma. Nem meu amor. E não recuperarei essas lágrimas sobre o papel. Coisas irremediáveis. Odeio todas elas. Pois é, esse não é mais um lindo conto de amor.
A narradora dessa velha história lamenta muito, muito mesmo.
by Luiza Chiesa (foxy lady)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Come what may

E com você
passarei a eternidade
viverei minha mocidade
Amar-te-ei
como o vinho que melhora com a idade

E com você
passarei a eternidade
Neste ponto,
não apenas neste ponto
converso com o papel
assim
como se nos olhos te mirasse
com versos no papel
rimo
como se teus olhos admirasse

E com você
passarei a eternidade
É por você - é pra você
essa poesia
É por você - é pra você
essa disritmia
que é o amor
O mantinha escondido
para não rimá-lo com dor
Mas te amo
Ah! Como te amo
E por você
esperarei a eternidade
Come what may

by Luiza Chiesa (foxy lady)