segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que é que a baiana tem?

Podia ser um conto de fadas, mas não é. Agora, se você leitor não acredita em amor à primeira vista, ou então em um amor para toda a vida – e quem sabe, para a eternidade – sinto dizer que o melhor mesmo é ler minhas linhas até o final, para, se quiser, ter mais uma história que comprove sua tese.
Aconteceu que no Peru, un viajero Inglés llamado* Geoff Belford fell in love** por uma baiana, como numa mistura incrível de culturas. Era um dia quente e o nosso turista rumava para Nazca, preparado para tudo, com sua câmera fotográfica, binóculos, uma troca de roupas, dinheiro estrategicamente colocado numa pochete, tênis já antigo, óculos de sol, algumas frutas e o celular desligado.
Ele estava em uma van que reunia por si só dez pessoas vindas de todos os cantos do mundo e, é claro, o motorista. Belford estava ansioso com o passeio, e ficou impaciente quando uma francesa pediu para que parassem em algum lugar para levar sua filha ao banheiro. Não havia nada que pudesse fazer nessa situação além de se conformar e descer da van também (já sentia uma ligeira necessidade de esticar as pernas). E foi ali, entre uma van e um banheiro, que ele viu passar uma negra pequena, com todos os seus trajetos e os cabelos encaracolados e soltos, rindo, cheia de si, com uma bolsa na mão e todo o charme do mundo no rosto. Aquela mulher descompassou Geoff de um jeito que quando ele voltou a si, já tinha tropeçado em uma pedra e estava agora no chão, ainda com os olhos fixos nela.
Ela, percebendo o tombo, correu para acudir o homem estranho que a este ponto já acreditava ter encontrado o amor de sua vida. O inglês se sentiu constrangido com a situação, e extremamente lisonjeado por ser o centro das atenções da moça no momento. Não teve tempo para saber muita coisa, descobriu que ela era brasileira e morava em Salvador. O que ela estava fazendo ali não se sabe, afinal, assim são as mulheres misteriosas: costumamos não saber muito sobre elas, e são tão paralisantes que podem até ser chamadas de musas, para os poetas.
É, o tresloucado poeta inglês passou o resto de seus dias no Peru amando nossa pátria amada apenas por ter como cidadã o seu grande amor. Resolveu no aeroporto que sua vida não tinha sentido sem a mulher do nome oculto, e veio parar exatamente no coração da Bahia. Ele ainda não sabia o que tinha naquela baiana de tão especial, o melhor então seria reencontrá-la e descobrir. Quando chegou em Salvador, viu muito mais do que esperava: bateu papo com o acarajé, entendeu que aqui não se fala espanhol, e sofreu muito por causa disso, depois percebeu da pior forma que muita feijoada dá indigestão e por fim conheceu muitas pessoas, das mais diferentes personalidades. Entre tudo isso estava seu foco, o motivo de sua vinda. Pensou que a melhor forma de encontrar sua amada (que não nos sonhos), seria publicar um anúncio no jornal. Com certa dificuldade conseguiu comunicar-se com todos e viu na segunda semana neste país novo em sua vida a matéria sobre a busca pela baiana publicada num jornaleco:
“Procura-se mulher perfeita!
Inglês procura uma baiana misteriosa
Durante uma viagem ao Peru, o inglês Geoff Bertold […] conheceu e se sentiu atraído por uma baiana. Foi uma conversa rápida e ele nem sequer ficou sabendo o nome da moça. Agora está em Salvador com a ideia fixa de reencontrar quem pode ser o amor de sua vida.”

Não deixou, no entanto, de procurá-la sozinho mesmo, entre as ruas da calorosa Bahia. Só que, com o tempo, e com as morenas/ negras/ mulatas/ brancas, enfim, com a beleza brasileira, aquela uma de nome desconhecido, aquela uma que havia o prendido e roubado seu coração, aquela uma, aquela lá, aquela só-mais-uma, aquela era a que ele tinha se equecido.
Nunca reviu o amor de sua vida, de sua primeira vista. Se casou alguns anos depois com outra negra pequena, com todos os seus trajetos e os cabelos encaracolados e soltos, risonha, cheia de si, com uma bolsa na mão e todo o charme do mundo no rosto, enquanto ele ria ao lembrar que um dia no Peru, un viajero Inglés llamado* Geoff Bertold fell in love** por uma baiana, como numa mistura incrível de culturas.

un viajero Inglés llamado: do espanhol, significa "um viajante inglês chamado"
fell in love: do inglês, significa "se apaixonou"

by Luiza Chiesa (foxy lady)