quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Areia



Naquele dia não sonhei.
Abri meus olhos e neles coloquei um nada tão grande que quase me perdi. Depois fui logo pedindo desculpas à noite. E passou a ser assim toda vez. De repente. E eu fiquei limitada aos picos de meu corpo. Era bem assim: eu respirava e me anoitecia.
Nem por isso descansei.
Isso, no decorrer do tempo, assusta um pouco. É. Imagine se você não sonhasse. Parece esquisito, mas não adianta em nada ter um dia inteiro vivido se não sonhar no escuro mais tarde. A semana vira um todo continuado. Talvez as pessoas careçam mesmo de sonhos diários, como que em doses homeopáticas.
No demais, o sonho é como areia. Tem todos os seus grãos concretos, mas não passa de finas camadas e arde quando o injetamos diretamente nos olhos.
Pois está claro, não vê? Sonhos não são asas. São bases. Caminhamos neles. Sonhos são caminhos! Não simples. Podem ser movediços. Ah! E nem líquidos são.
O jeito que deu pé foi começar a sonhar de dia, periodicamente. Acordava e ia sonhar. E já não importava mais se minhas pernas se cansassem na cama e não fossem caminhar no inconsciente. Já não importava, e se Victor Hugo estava certo quando me disse:
- Minha pequena, "julgar-se-ia bem melhor um homem por aquilo que ele sonha do que por aquilo que ele pensa".- Então é até bom que eu prossiga com essa minha nova rotina.
É até melhor. Por que será que sempre temos de nos fechar em quatro paredes e cerrar os olhos para sonhar? Sonhos são vagos quando não são reais. São vagas, no mar, prontas para te baquear. É tão mais sensato ser a sua própria ilusão. Ver a realidade em grãos.
É, no mínimo, real.

by Luiza Borba (foxy lady)