Nos últimos segundos meu computador travou, e então eu parei para pensar no porquê o universo está conspirando contra a criação deste texto. Eis a conclusão: acabei de perceber que pretendo com essas linhas finalizar mais uma volta da Terra em torno do Sol, e, de repente, couberam nos últimos 361 dias, minutos suficientes para tragar meu ser, multiplicá-lo, dividi-lo, subtrai-lo e somá-lo, ainda sobrando 4 rotações para este planeta. É muito importante portanto, que não se acabe, simplesmente não tenha um ponto final. Mesmo assim me ligo muito em memórias, e essa junção de parágrafos é importante para a continuação dos meus acontecimentos. A solução perfeita que acabei de bolar foi o título.
Mas, por favor, querida autora, você não acredita mesmo que isso vai enganar alguém, acredita? Expresso agora a minha completa raiva da consciência da incompetência humana: mesmo com minhas tentativas, se uma pessoa quiser morrer, ela morre, se um indivíduo quiser te ver sofrer, ele consegue, se um siri quiser te proporcionar uma história de amor, ele vai, se uma viagem para o exterior quiser te fazer entender, você entenderá, se o passado não quiser passar, ele fica, se a vida quiser te fazer feliz, nada te fará parar de rir, se um abraço quiser te envolver, ah... só as voltas que ficam difíceis... estou esperando por uma certa senhora desde que senti sua pele fria dentro de uma cama nova de madeira. Essa constatação foi mórbida o suficiente para fazer meus olhos pingarem. Sabia que nenhum dos meus filhos vai abraçar essa senhora que não voltou mais? Nem eles e nem você, bem feito. A gente demora tanto pra perceber que todo o tempo do mundo não existe perto do nunca mais. E quando percebe os olhos pingam.
De que serve ser humano, construir a bomba atômica e saber plantar tomates se nada basta? Algumas constatações são mesmo engraçadas: nada satisfaz a humanidade. Numa ceia linda de Natal todos os queridos se reúnem numa noite feliz para procurar fora de casa o conforto da companhia. Ligam para todos os ausentes num descontentamento interessante de tudo o que o cerca. Numa tentativa curiosa de alcançar lá longe o sorriso que o espera ao lado para um abraço. Numa alienação intrigante à verdade de que não, não se dá beijos por telefone. A gente sempre quer o que não têm, porque não se almeja o que está em mãos. Na verdade saboreamos mais a conquista do que o objeto. Gostamos mesmo é de poder fazer a ligação. Sorrimos mais por amar do que pelo amado, como já dizia Nietzshe. Vibramos mais por ter chegado à lua do que por sentir toda aquela roupa espacial e ver aquela imensidão escura. É por isso que costumamos não comemorar a rotina.
Mas eu comemoro. Quer dizer, comemorarei.