Comecei a ler a introdução daquele que seria meu próximo livro de cabeçeira. Ao findar da costumeira leitura superfícial, parei meus olhos na primeira frase daquela dedicatória: " Agradeço a cada um dos pacientes que encontrei ao longo da minha tragetória como psiquiatra e pesquisador da psicologia". Dei dez minutos para a minha mente. Não havia ali muito o que refletir, mas de um modo um tanto quanto surpreendente, encontrei implícitas ali algumas verdades para mim outrora desconhecidas.
A vida além de ser um teatro, como diria Chaplin, tornou-se um consultório um tanto quanto casual. Na verdade, uniram-se as ideias. O ser humano toma o papel de médico, pois conhece e convive no decorrer de sua trajetória com várias pessoas que precisam ser ajudadas. Porém, chega uma hora em que essa cena acaba e o espetáculo continua. Se fecham as cortinas e invertem-se os papéis. O homem que ontem era ajudado, hoje estende a mão. A menina que ontem sorria, hoje chora. A mulher que ontem se preparava para a labuta, hoje tricota em sua cadeira de balanço. O médico, se torna paciente. O barulhinho de tic-tac do relógio foi substituido por vice-versa, vice-versa, vive-versa... (consegue ouvir?)
É assim. Entram e saem pessoas de cena a todo o momento. A cada acender e apagar das luzes tende-se a ter menos certezar de que papel será interpretado no palco da existência. Quem ficará com você para o próximo ato? Quem será o paciente? Quem será o médico? Não sei. Resta dar ao tempo oportunidade para que nos conte e, a vida continuará guardando seus mistérios.
Ps.: Agradeço a cada um dos pacientes que encontrei em meu percurso. Agradeço também, a todos os nobres seres que me sederam espaço em seus divãs e me ajudaram. Aos que estiveram, estão ou estarão em cena comigo nessa peça da qual também somos platéia. De algum modo vocês estão retratados nas linhas deste texto.
Renata Otaviano