Faz mais de um mês que não escrevo e é a primeira vez que não me sinto vazia. Vai ver, as palavras estão fechando as portas, vai ver vão embora e me deixam só, com a fala. Vai ver nem isso. Vai ver a vida é pouco, mas basta.
Vai ver não preciso delas. Mas elas sabem que é mentira minha.
domingo, 23 de dezembro de 2012
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Luto ao desconhecido que virou a esquina
As ambulâncias saíram num manso aflito, sem chiar. Como que em respeito a quem já não estava mais ali para vê-las assim, resignadas. E pela janela do ônibus nós não pudemos mais maldizer o cansaço, o frio, a fome e a solidão por serem, ainda, vida. E chiarem.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
O sofá
Procuram-se
pessoas interessadas.
E, ao que
parece, há mesmo um erro na língua portuguesa. A partir de que sintaxe o
interesse é um verbo transitivo direto, indireto, o que quer que seja desde
quando? Desde quando pessoas tem um algo específico para seu interesse? Desde
quando eu sei existem as pessoas interessadas e o desinteresse comendo a língua
de bilhões de outros. O interessar é uma possibilidade que sorri em nós e nos
anda por aí. É preciso não deixar que se ausente.
Porque o
interesse não tem nome, cargo, razão, efeitos especiais, boas citações ou o
conhecimento do lado B da cultura. O interesse tem mãos, pés, e faz. Nem de voz
precisa. Que se o motivo se concentrar muito na garganta vira pose e não
acontece.
Às vezes
parece até que as pessoas querem querer coisas, mas quando já estão com a mão
na porta , naquele momento depois de terem fechado todas as janelas e apagado
as luzes, ou chora o filho no quarto, ou
dói as costas de cansaço, ou liga a tevê e daí já viu. Às vezes até parece, mas
daí aquela ladainha e já viu, não é por mal, sabe?
E só que e
nunca vai ser. E o Brasil todo já se acomodou a cuspir na bandeira da pátria e
se sentir revolucionando. Depois volta pra casa e lava a alma vendo Jornal
Nacional. Ai, que a moléstia do povo é o sofá.
O sofá e as
cortinas na janela. Não, não tenho nada a falar sobre o piso do chão, nem sobre
a cor das paredes, mas se for para por sofás na sala, que estejam enfrentados,
para, ao menos, estimular a conversa entre as pessoas que neles puserem o
corpo. É impossível que se desgostem tanto.
Luiza Borba
Luiza Borba
sábado, 20 de outubro de 2012
a Fartesia, o Neologismo, e a Prateleira de Livros
Pois é. Parece que agora meus textos vão para prateleiras, ganhar o mundo. E por isso mesmo queria convidar todos vocês para o Coquetel de Lançamento lá na Livraria da Vila, no Jardins. O livro é bem como as coisas que vocês encontram por aqui - talvez um pouco mais vasto e pontual -, a prosa e a poesia conversando e a tua pessoa participando de todas as cenas. E é isso, o livro é sobre pessoas. Já percebemos isso pelo nome: Fartesia designa um estado inerente ao ser humano de não bastar-se. A insatisfação. A inconstância. Enredadas nessa estática, subjetiva e abrangente, as personagens de Fartesia poderiam viver em um mesmo bairro, sem sequer se conhecerem. O Fulano, a Maria Flor, o Passarinho Azul, Jásper, Jorge, Geraldo, Mosca Branca poderiam ser você, sem deixar de serem eles.
Deixo aqui o convite e a sincera vontade de te ver lá. Chegar um pouco mais perto das pessoas que leio e por quem sou lida. Deixo também o link da página do livro no facebook, para mais informações: http://www.facebook.com/Fartesia.
E um abraço.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Ladainha
De que serve ser humano, construir a bomba atômica e saber plantar tomates se nada basta? Algumas constatações são mesmo engraçadas: nada satisfaz a humanidade. Numa ceia linda de Natal todos os queridos se reúnem numa noite feliz para procurar fora de casa o conforto da companhia. Ligam para todos os ausentes num descontentamento interessante de tudo o que o cerca. Numa tentativa curiosa de alcançar lá longe o sorriso que o espera ao lado para um abraço. Numa alienação intrigante à verdade de que não, não se dá beijos por telefone. A gente sempre quer o que não têm, porque não se almeja o que está em mãos. Na verdade saboreamos mais a conquista do que o objeto. Gostamos mesmo é de poder fazer a ligação. Sorrimos mais por amar do que pelo amado, como já dizia Nietzshe. Vibramos mais por ter chegado à lua do que por sentir toda aquela roupa espacial e ver aquela imensidão escura. É por isso que costumamos não comemorar a rotina.
Mas eu comemoro. Quer dizer, comemorarei.
Luiza Borba
Luiza Borba
O pouco de vida que há em nós
De repente somos tudo morte. A pele, os pelos, a voz, as unhas, os sapatos. Os livros que carrego. Nada vive na superfície. E continuam maquiadas, penteados, amaciadas, pintadas, amarrados. Lidos. De repente só cuidamos daquilo que não existe.
Luiza Borba
Luiza Borba
...
Deixei plantar o tempo para ver se ele seguia uma trilha de pão. Não.
Ele se (es)vai, firmado pelo chão.
Deixei plantar meu dia, esperando que ele me vivesse.
Luiza Borba
Ele se (es)vai, firmado pelo chão.
Deixei plantar meu dia, esperando que ele me vivesse.
Luiza Borba
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