quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O sofá


Procuram-se pessoas interessadas.
E, ao que parece, há mesmo um erro na língua portuguesa. A partir de que sintaxe o interesse é um verbo transitivo direto, indireto, o que quer que seja desde quando? Desde quando pessoas tem um algo específico para seu interesse? Desde quando eu sei existem as pessoas interessadas e o desinteresse comendo a língua de bilhões de outros. O interessar é uma possibilidade que sorri em nós e nos anda por aí. É preciso não deixar que se ausente.
Porque o interesse não tem nome, cargo, razão, efeitos especiais, boas citações ou o conhecimento do lado B da cultura. O interesse tem mãos, pés, e faz. Nem de voz precisa. Que se o motivo se concentrar muito na garganta vira pose e não acontece.
Às vezes parece até que as pessoas querem querer coisas, mas quando já estão com a mão na porta , naquele momento depois de terem fechado todas as janelas e apagado as luzes,  ou chora o filho no quarto, ou dói as costas de cansaço, ou liga a tevê e daí já viu. Às vezes até parece, mas daí aquela ladainha e já viu, não é por mal, sabe?
E só que e nunca vai ser. E o Brasil todo já se acomodou a cuspir na bandeira da pátria e se sentir revolucionando. Depois volta pra casa e lava a alma vendo Jornal Nacional. Ai, que a moléstia do povo é o sofá.
O sofá e as cortinas na janela. Não, não tenho nada a falar sobre o piso do chão, nem sobre a cor das paredes, mas se for para por sofás na sala, que estejam enfrentados, para, ao menos, estimular a conversa entre as pessoas que neles puserem o corpo. É impossível que se desgostem tanto.

Luiza Borba