sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ser mente

No fim somos todos como árvores: temos estruturas firmes e rígidas, mas podemos balançar com qualquer sopro, e não sabemos muito bem o que estamos fazendo aqui. Hoje é dia primeiro de janeiro de 2010, daqui a pouco amanhece. Está pingando chuva nublada do céu paulista e só foi possível ver a lua por alguns minutos nessa madrugada. Ela brilhava para mim e conversamos até que meus olhos transbordassem água. Foi mais como um monólogo, porque quando começo, costumo não parar de falar.
Agora contentei-me em olhar. Fito os prédios à minha volta, às vezes um carro, algumas árvores, as luzes, e eis que umas gotas do céu lá de fora respingam pela janela para dentro do meu quarto e me encontram a face. Elas mesmo não ligam se essas são as primeiras 24 horas dos próximos 12 meses. Assim como a Terra não reparou se finalmente está no mesmo lugar que estava há 8760 horas, e, de certa forma, ela sempre estará no mesmo ponto que se encontrava há 365 dias, o que me leva a pensar no porquê escolheram hoje, e não ontem ou amanhã para começar o ano.
Acabou de clarear. Eu ainda não vi o sol nessa "mais-uma-translação". Gosto de pensar, no entanto, que ele continua lá, impetuoso, atrás das nuvens. É engraçado como uma bola incandescente pode confortar as pessoas. Os seres humanos são estranhos assim: são sentimentais a ponto de marcar datas, escolher cores, sabores e humores. O fato é que pelo mundo inteiro pessoas se vestiram de branco, preto, vermelho, dourado, azul, rosa, roxo, verde, laranja, fizeram contagem regressiva - em alguns lugares uma hora mais cedo do que o devido, por causa do horário de verão - e sonharam um pouco. Não que hoje realmente fosse especial, mas nós quisemos assim e passou a ser. Nós ligamos para os amigos, abraçamos os parentes, lembramos dos ausentes, cantamos para toda gente e desejamos ver longe os problemas, sentimos palpável a alegria infinita... ou não, porque a vida pode cortar a nossa ousadia pela raiz.
No começo somos todos como sementes. E aqui lá se vai mais um ciclo. É tudo sempre igual, mas nunca sabemos o que esperar. Que venha 2010, seja muito bem vindo, sente-se bem confortável para as reflexões e por favor, só não me decepcione nem cuspa no chão que seu antecedente limpou.

by Luiza Chiesa (foxy lady)